Contabilidade como ferramenta de política econômica

O controle desse tripé propicia mais investimento, criando um circulo virtuoso.

Edison Fernandes

Desde a época do cursinho pré-vestibular, gosto de questões que relacionam duas coisas que, aparentemente, não se relacionam. Havia uma questão de matemática que reunia diversas figuras geométricas e apenas um número para que, de associação em associação, fosse descoberto o tamanho de todos os lados das figuras. Essa, não consigo reproduzir aqui, mas outra de história foi desafio para a minha turma: qual a interferência que o domínio do rei da Espanha sobre o território de Portugal exerceu no tráfico de escravos no Brasil?
Esse exercício de associações consecutivas pode ser utilizado para relacionar uma matéria extremamente técnica, como a adoção do padrão internacional de contabilidade (IFRS) pelas empresas brasileiras, com outra que afeta o cotidiano de todos os cidadãos brasileiros, que é o desenvolvimento econômico do país.
Como estamos vendo a olhos nus e sentindo na pele, a concepção e a execução de uma política econômica que priorize o desenvolvimento do país deve considerar prioritariamente os investimentos, de maneira geral, sejam públicos ou privados.
De forma bastante resumida, os investimentos lato sensu geram emprego e renda, aumentam a produção e o consumo, garantem os fluxos financeiros externos, trazendo, como consequência, o controle da taxa de juros, do câmbio e da inflação. O controle desse tripé propicia mais investimento, criando um circulo virtuoso.
A disponibilidade dos investimentos, por outro lado, só se verifica em um contexto de segurança e transparência – aliás, esta última como meio para atingir aquela. Em primeiro lugar, segurança e transparência do setor público, o que implica observância dos contratos, coerência no cálculo de índices econômicos, como do superávit primário, por exemplo, estabilidade dos marcos regulatórios e previsibilidade na condução da interferência estatal na economia, além, é claro, a transparência das contas públicas e dos critérios de tomada de decisão.
Depois, a segurança e a transparência do setor privado, abrangendo a celeridade e a previsibilidade na solução de conflitos e a adequada divulgação das “contas privadas”, ou seja, das demonstrações financeiras das empresas. Sobre este último item, não basta que as empresas divulguem sua situação econômico-financeira e seu desempenho, mas que o faça de maneira compreensível para quem se vale de tais informações e comparável com as empresas estrangeiras, porque no atual estágio de globalização, também as empresas locais disputam os investimentos estrangeiros com empresas de outros países (o que se poderia chamar de concorrência financeira).
Nesse contexto, revela-se a importância da adoção do padrão internacional de contabilidade (IFRS) pelo direito contábil brasileiro. A transparência trazida por essas normas contábeis não deve ser uma preocupação apenas das companhias abertas, que mais claramente buscam recursos financeiros no mercado, mas deve estar na pauta de todas as empresas brasileiras, na sua negociação com bancos, clientes, fornecedores e potenciais investidores.
Adicionalmente aos aspectos jurídicos da contabilidade, os IFRS suprem com excelente desempenho duas funções essenciais relacionadas às informações financeiras: transparência e uniformidade de divulgação, o que garante a comparabilidade.
Por essas razões, é possível advogar que as normas contábeis estão integradas, de maneira indissociável, à política econômica que busque o crescimento do país. Dessa forma, esse padrão contábil deve ser privilegiado em relação a uma eventual segunda contabilidade destinada ao cálculo dos tributos sobre o lucro. Tal prevalência aceita a isenção dos dividendos distribuídos com base no lucro contábil, porque, assim, garantem-se a transparência e a segurança para os empreendedores.
Fonte: Valor OnlineOs artigos aqui apresentados representam a opinião do autor, não cabendo ao Guia dos Contadores responsabilidade pelos mesmos.

A importância da contabilidade para as pequenas e médias empresas

No mundo corporativo, a contabilidade também encontra resistência para ser utilizada de forma abrangente.

Vagner Miranda

A contabilidade tem como foco principal o estudo da variação do conjunto de bens, direitos e obrigações que formam o patrimônio de uma entidade (pessoa física ou jurídica). O público em geral conhece e usa bastante o termo para se referir a algo complicado, ligado a nmeros e pagamento de impostos. Por usar nmeros para dar boa parte das suas informações, com frequência a contabilidade é vista como muito próxima da matemática, e isso talvez explique um pouco o motivo de ser ela percebida como algo de difícil compreensão — cuja utilidade é especifica — e sofra alguma resistência por parte de usuários em potencial.
 No mundo corporativo, a contabilidade também encontra resistência para ser utilizada de forma abrangente. O setor contábil ou mesmo a área de controladoria na maioria das vezes são reconhecidos como a área da empresa que existe apenas para atender as exigências dos órgãos de arrecadação de impostos do governo. Essa visão restrita se aplica principalmente às micros, pequenas e até médias empresas.
Como elas correspondem à maior parte do universo das empresas existentes no Brasil, a classe contábil vem fazendo um enorme esforço para tentar esclarecer que a utilidade, aplicabilidade, necessidade e benefícios da contabilidade vão muito além do suporte ao pagamento dos impostos. A classe cada vez mais procura difundi-la como uma das ferramentas imprescindíveis para o correto gerenciamento de empresas de todos os ramos de atividade e tamanho.
Mas, mesmo com todos os esforços, a maior parte dos empresários da pequena e média empresa ainda faz pouco uso da contabilidade para gerenciar os negócios. Essa postura pode até ser uma opção, entretanto é importante que essas empresas tenham consciência de que é necessário manter a escrituração contábil em dia, pois podem vir a precisar dela em várias ocasiões. Na prática, esses empresários ainda não encontram ou percebem muitos motivos para manterem um departamento ou contratarem um serviço terceirizado de contabilidade com o objetivo de obter informações que auxiliam na tomada de decisão.
Diante deste cenário é importante destacar aspectos muitas vezes não compreendidos ou conhecidos, que contribuem para o uso limitado da contabilidade. Eles reforçam porque é importante que os administradores se esforcem para mantê-la funcionando bem dentro da empresa. Veja alguns motivos:
1)    Possibilita a prática de economia tributária na distribuição de lucro para os sócios da empresa, com substancial redução dos impostos pagos na pessoa física; 2)    É imprescindível diante da necessidade de solicitação de recuperação judicial; 3)    Facilita a relação com as instituições financeiras no acesso a linhas de créditos; 4)   Representa a verdadeira situação patrimonial da empresa. Serve de prova para o sócio que quer sair da sociedade para fins de apuração de haveres ou venda de participação; 5)    Prova, em juízo, a situação patrimonial nas disputas que possam existir entre herdeiros e sucessores de sócio falecido; 6)    Comprova em juízo fatos cujas provas dependam de perícia contábil; 7)    Auxilia na defesa de reclamações trabalhistas quando as provas a serem apresentadas dependam de perícia contábil; 8)    Serve para afastar da empresa o risco de autuações fiscais relacionadas a tributos federais, estaduais e municipais ou como suporte nas defesas contra auto de infração.
O conhecimento desses aspectos pode ser propulsor para que a contabilidade seja vista por esses administradores como um instrumento cuja utilidade é mais abrangente do que pensam, indo além de um sistema que só serve para suportar as questões de ordem tributária. É importante que considerem também o fato de que ao manter o sistema contábil funcionando na sua versão mais básica que é a contabilidade societária — aquela baseada apenas na legislação — a empresa automaticamente está preparada para superar qualquer situação relacionada com os aspectos destacados.
O empresário é o principal responsável por identificar e suprir todas as necessidades da empresa, e entre elas está o funcionamento de um sistema de contabilidade que no mínimo pode proteger contra terceiros que vislumbrem reivindicar algum direito ou cobrar algo que de fato ela não tem o dever de atender. Uma vez que a empresa mantenha a contabilidade societária funcionando, o passo seguinte pode ser seu incremento, visando torná-la também gerencial em conformidade com o que a classe contábil recomenda.
O empresário que se interessar em conhecer um pouco mais sobre as possibilidades oferecidas pelo sistema contábil aos poucos vai perceber que com alguns incrementos ela pode de fato se transformar em uma das ferramentas imprescindíveis para o correto gerenciamento da sua empresa.
Fonte: Jornal do BrasilOs artigos aqui apresentados representam a opinião do autor, não cabendo ao Guia dos Contadores responsabilidade pelos mesmos.

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